quarta-feira, 8 de junho de 2011

Toma o meu lixo

Tenho em mim a crueldade também. Tenho um copo de suco de laranja com veneno de matar rato. Tenho uma pistola automática engatilhada diante da têmpora. 
Tenho trevas e desejos de vingança. Tenho o gosto da morte na ponta da minha língua. Tenho escuridão dentro dos meus olhos. Tenho uma navalha escondida, 
pronta para lhe cravar na gengiva. Tenho um monte de planos de destruição em massa. Tenho cenas prontas de torturas que gostaria de praticar. Tenho nojo. 
Tenho ódio. Tenho pesadelos com a minha morte. Tenho dor. Tenho medo. Tenho pensamentos suicidas. Você já imaginou ter o privilégio de escolher a própria morte?
Por asfixia? Overdose? Um salto ao além? Uma explosão de pólvora que espalhe seus miolos para todos os lados? Que não seja para chamar atenção, seja real e 
verdadeira. São texturas da vida que as pessoas escondem. O medo da loucura.

Já imaginou se entregar completamente a ela? E não ser obrigado a colaborar com esse mundo imbecil? Traçar uma realidade paralela e ignorar todo o resto. 
Ignorar as responsabilidades, as contas, as amizades, os amores, os filhos, a beleza que se pode encontrar em meio a tanta podridão. Isso é crueldade. É egoísmo.
É ter consciência de que centenas, ou apenas umas dez pessoas sofrerão muito com uma decisão radical. Mas e se você desprezá-las? E se ignorar tudo que fez até
hoje, o que conquistou, o que conseguiu, o que nutriu naqueles que te amam. É a maldade. O pensamento insano. A parte mais imunda que temos dentro de nós e que 
ocultamos cuidadosamente dentro de um cofre.

Tenho em mim todos estes pensamentos, estes desejos, e reconheço que isso pode soar absurdo. Pode ser agressivo. Inclusive desnecessário em sua exposição. 
Que diferença  faz? É o choque. É me imaginar deitado dentro de uma banheira onde o sangue e a água se misturam. Onde a vida se esvai sem que ninguém possa 
socorrer. O limite entre o que é real e as alucinações que vem com o frio. É a cena de horror. Há esse lixo todo dentro de mim no momento.

Uma vontade enorme de me comportar como um idiota. De fazer com que o leitor se sinta indignado com tamanha falta de respeito. É como disparar bombas em ônibus
escolares. É como atravessar um cruzamento com o farol fechado e se chocar contra um caminhão em alta velocidade. Ouvir o zunido do fim. O último olhar, o último
ar a ser recebido pelos pulmões. Há toda essa fantasia mórbida vagando pelo meu cérebro. E repare que não existe qualquer compromisso com o bom senso. 
Não há qualquer interesse que não seja o de ofender. De machucar, de triturar qualquer sentimento de compaixão. Não quero o torpor da pena alheia, muito menos 
palavras de carinho ou incentivo. Quero vomitar a última gota de fezes no caminho reverso, e fazer com que todos sintam o cheiro de bosta escorrendo pelo nariz. 
Infestando o ambiente com o odor da putrefação de minhas idéias mais bizarras. E navegar na desordem que estes pensamentos possam causar em ti. Tornar 
insuportável a continuação desse texto e ao mesmo tempo estimular a sua curiosidade que parece ser tão podre quanto tudo que relatei a cada linha. Somos iguais
em desgraça, como disse certa vez o poeta. Não quero sua piedade, quero seu pavor. Seu terror.

Textos de amor e poesias repletas de palavras bonitas, você já se acostumou a ler e me arrisco a dizer que talvez não lhe cause tantos sentimentos. Agora 
experimente o desconforto, e confronte uma face completamente improvável de ser retratada publicamente por uma pessoa que você pensa que conhece.

Chegamos ao fim.

Isso também é uma arte.

Ou não é?

Nenhum comentário:

Postar um comentário